“CONTRA REFORMA AGRÁRIA – Terror, Destruição e Morte no Alentejo” e Sul do Ribatejo

A verdade e a falsificação da História… (1ª parte)

Uma das teses mais frequentes entre os detratores e inimigos da “REFORMA AGRÁRIA – A Revolução no Alentejo” e Sul do Ribatejo, no sentido de procurar justificar a CONTRA REFORMA AGRÁRIA e a política de “Terror, Destruição e Morte”, que desenvolveram durante 15 anos para a assassinar, é a de que esta era parte de um plano maquiavélico concebido pelo PCP, no sentido de tomar de assalto o poder em Portugal e, se não a tivessem destruído, não teria havido Liberdade e Democracia em Portugal, porque uma tenebrosa ditadura comunista se perfilava no horizonte.

São teses presentes nas narrativas de Mário Soares e outros democratas e anti-fascistas do estado-maior do PS que o rodeava, de intelectuais sem escrúpulos rendidos à sereia do capital sem rosto, como António Barreto ou reaccionários como Carlos Portas, a famigerada parelha que tanta gala faz em terem sido os autores da não menos famigerada “Lei Barreto”, de dirigentes dos partidos de direita e extrema direita, de dirigentes da CAP e que encontramos também no discurso justificativo das barbaridades cometidas pelo “exército de ocupação e opressão do Alentejo” sob o comando do General Passos Esmeriz, braço armado da “CONTRA REFORMA AGRÁRIA”, que assume, no seu “DOCUMENTO DE DIFUSÃO INTERNA” de 2.4.1980, de forma inequívoca, o PCP, os Sindicatos e seus dirigentes e as Unidades Colectivas de Produção como seu principal adversário, a quem atribui imaginárias táticas e planos, como se de um exército inimigo se tratasse, e contra o qual desenvolve a sua cruzada vitoriosa, segundo as suas teses, fundamental para a defesa da liberdade e da democracia em Portugal. Um General spinolista só com derrotas militares no curriculum não é coisa que se possa imaginar no Portugal de Novembro, isso, só no PORTUGAL DE ABRIL.

São teses que historiadores e escribas, serventuários do neoliberalismo dominante, propalam e que, há força de serem repetidas, à boa moda de Goebbels, até parecem ter correspondência com a verdade. E, como se verdades fossem, lá se vão difundindo e, assim, minando e corrompendo a opinião pública e a memória, sobretudo dos que não viveram a Legalidade Revolucionária, que se seguiu ao dia 25 de Abril de 1974.

Legalidade Revolucionária essencial para enfrentar e derrotar as manobras e sabotagens desenvolvidas pelos protegidos do fascismo (monopolistas e grandes capitalistas, grandes agrários e latifundiários) contra a Liberdade conquistada e a jovem democracia que desta emanava.

Legalidade Revolucionária essencial para enfrentar com êxito e derrotar os sucessivos golpes levados a cabo por Spinolistas e políticos sem vergonha, (golpe Palma Carlos em Julho de 1974, Maioria Silenciosa em 28 de Setembro e golpe militar de 11 de Março de 1975) contra o desenvolvimento do programa progressista do MFA, favorável à Descolonização, à Democratização e ao Desenvolvimento ao serviço dos mais desfavorecidos, que pretendiam limitar à deposição do regime fascista e à instauração de uma social democracia neocolonialista e que não pusesse em risco os interesses capitalistas, coartando às portuguesas e portugueses o seu direito de escolher livremente o modelo de sociedade que queriam para o seu próprio País.

Legalidade Revolucionária, inspirada na acção revolucionária do Movimento dos Capitães, que ganhou forma de Lei, após a derrota do golpe reaccionário do General Spínola, a 11 de Março de 1975, e acabou consagrada na Lei Fundamental do País, a Constituição da República Portuguesa, a 2 de Abril de 1976, que reconheceu e plasmou como irreversíveis as conquistas alcançadas ao abrigo da mesma, entre as quais a REFORMA AGRÁRIA – A Revolução no Alentejo e Sul do Ribatejo.

Teses expressas e defendidas por Deputados do PS, do PSD e do CDS na Assembleia Constituinte e na Assembleia da República, sobretudo aquando da discussão da “Lei Barreto”, peça incontornável da “CONTRA REFORMA AGRÁRIA – Terror, Destruição e Morte no Alentejo” e Sul do Ribatejo.

Teses que importa combater porque não são mais que torpes deturpações da verdade Histórica que, ciosamente, ardilosamente, é contornada por quem, intencionalmente, a procura escrever de forma a justificar e servir a narrativa da contra revolução.

É nessa narrativa contra revolucionária que se inscrevem o discurso da CAP, da direita e da extrema direita e dos dirigentes do PS como Mário Soares e do Estado Maior do PS que o rodeava, que, com a direita, passaram a alinhar, constituindo o “Bloco Central de Interesses”, em obediência à estratégia traçada com a CIA/Frank Carlucci, e outras agências do mundo ocidental, contra a Revolução de Abril, apostando na mobilização de um centro e de um Norte contra um inimigo, que já dominaria o Sul e se aprestava a assaltar as instituições democráticas e representativas do Estado de Abril em construção.

Tão longe estavam dispostos a ir, os que Abril traíam, que admitiam, inclusive, mergulhar o País numa guerra civil fraticida, criminosa, só evitada pelo bom censo do PCP e dos militares do MFA mais coerentes e progressistas, na defesa da Revolução e das suas conquistas. O Governo ainda eles chegaram a levar para o Porto. Vontade de mudar as restantes instituições também não lhes faltava. Armas terão sido igualmente e de forma criteriosa distribuídas contra a ameaça comunista, envolvendo gradas e conhecidas figuras… Mas esta é uma outra parte da História que a outros caberá contar.

As motivações do discurso dos que, traindo a Revolução, tudo faziam no sentido de apresentar a REFORMA AGRÁRIA – A Revolução no Alentejo e Sul do Ribatejo como parte da estratégica de um tenebroso e maquiavélico projecto de assalto ao poder meticulosamente preparado pelo Partido Comunista Português, e que constituiria uma ameaça à Liberdade, à Democracia e ao “Socialismo em Liberdade” não deveriam ser difíceis de perceber, pois, são por demais evidentes para quem não quiser fechar os olhos e os ouvidos ao que se passou na realidade.

Que melhor isco, para incendiar os ânimos e animar e justificar acções contra revolucionárias, que um discurso anti comunista, forte, tão próximo quanto possível do discurso fascista, invocando o papão comunista, que fora inculcado durante 48 anos pela ditadura, nos sectores menos informados da sociedade portuguesa?

Que melhor isco para iludir os mais incautos, que passar a mensagem que o Sul do País já estava a ferro e fogo, que os comunistas estavam a assaltar e a apoderar-se de tudo, terras, casas e haveres, pela violência, expulsando e deixando na miséria famílias inteiras, não respeitando nada nem ninguém, destruindo e vendendo ao desbarato tudo o que apanhavam à mão?

Que isco mais atrativo para mobilizar as acções contra revolucionárias que invocar a necessidade de libertar o Alentejo já totalmente ocupado e sob o jugo da ditadura comunista que estaria já a impedir o exercício das mais elementares expressões da tão almejada Liberdade e a perseguir todos os que ousavam contrariar as suas ambições de poder único?

Discursos terroristas, anti-democráticos, manipuladores da opinião pública ignorante do que realmente se estava a passar. Discursos milimetricamente elaborados e profusamente difundidos pelos caciques locais e por sectores mais retrógrados da igreja, também eles fortemente ligados à ditadura fascista e mobilizados contra a Revolução.

Eles não discursavam para quem fazia e defendia a revolução. Esses não eram passíveis de enganar como o testemunharam os resultados de sucessivos actos eleitorais em que o PCP e os seus aliados foram sempre obtendo mais votos até à consumação do assassinato da “REFORMA AGRÁRIA – A Revolução no Alentejo” e Sul do Ribatejo. Assassínio político, económico, social, cultural e ambiental que liquidou cerca de 50 000 postos de trabalho directos criados pela REFORMA AGRÁRIA e expulsou do Alentejo, dezenas de milhares de trabalhadores, importante base social de apoio da Revolução e do Partido que sempre os apoiou, o PCP, obrigados a procurar fora da sua terra o pão que lhes roubavam e até então ganhavam na terra que trabalhavam.

Para os que no poder estavam empenhados na contra revolução o importante era passar a ideia da necessidade e urgência de travar o assalto eminente ao poder que os comunistas estavam a preparar e justificar o recurso à violência para o conseguir como vieram a fazer. Porque essa seria necessária e inevitável para defender a Liberdade, a Democracia e o Socialismo que os comunistas estariam a pôr em causa com a sua acção aventureira, violenta, ilegal e contrária ao programa do MFA e aos pactos com este assinados pelos partidos que participavam nos governos provisórios: PS, PSD, PCP, MDP.

Percebo o ódio visceral e a necessidade desta manipulação grosseira da História pelos que traíram Abril e as suas conquistas. A acção revolucionária dos trabalhadores e a sua manifesta vontade de contribuir para construir o Socialismo, que todos proclamavam desejar, deitou por terra de uma penada toda a demagogia dos que o proclamavam mas na verdade o não desejavam. Por outro lado esta manipulação da História era fundamental para reabilitar Spínola e os criminosos e terroristas que participavam nas organizações a ele ligadas ou suas apoiantes (ELP, MDLP, MIRN, FLA, FLAMA e afins) que vinham colocando o País a ferro e fogo com os seus ataques bombistas, os incêndios de sedes dos partidos democráticos de esquerda, sobretudo os do PCP e MDP, e a perseguição aos seus mais destacados dirigentes.

Verão quente de 1975? Não. Verão do terrorismo mais abjecto da direita como é típico acontecer em todas as revoluções que visem pôr cobro à exploração e opressão do sistema capitalista. Não faltam trágicos exemplos por esse mundo fora desta realidade, tanto no passado como no presente.

Acusar o PCP de não respeitar os acordos firmados entre os partidos e o MFA e procurar passar a ideia que a Reforma Agrária fazia parte de um projecto de assalto antidemocrático do PCP ao poder, minuciosamente preparado, e parte de uma agenda pré-concebida e oculta, que ameaçaria a Liberdade e a Democracia, é de uma desonestidade política e intelectual absolutamente inaceitáveis.

É um insulto ao Partido que mais lutou pela Liberdade e Democracia em Portugal. Que mais vítimas sofreu nessa luta firme, coerente e determinada contra a ditadura fascista, até 25 de Abril de 1974 e mais vítimas mortais sofreu já depois do 25 de Abril, na defesa coerente e firme do Portugal de Abril e das suas conquistas.

Um insulto a quem pagou com a perda da sua própria liberdade, quando não com a própria vida, o seu amor e apego à LIBERDADE.

Um insulto a um Partido que nunca faltou à palavra dada e aos compromissos assumidos, independentemente de erros ou insuficiências que possa ter tido ou lhe possam ser apontados no decurso da sua História.

História longa de 100 anos completados a 6.3.2021.

História ímpar de 100 anos de luta ao serviço do Povo e da Pátria, de luta em defesa da soberania e independência nacionais.

História de 100 anos de luta contra todas as formas de exploração e opressão, sempre do lado de quem trabalha e produz a riqueza de que alguns, muito poucos, se apropriam, condenando a esmagadora maioria a uma vida de carência e miséria.

História de 100 anos que a maioria do Povo Português desconhece porque o anti-comunismo ainda prevalece em amplos sectores da sociedade portuguesa intoxicada por uma comunicação social dominada pelo grande capital e ao serviço do neoliberalismo e do anti-comunismo.

História de 100 anos de luta pela LIBERDADE-DEMOCRACIA-SOCIALISMO.

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