EXPLICAR… OUVIR … REFLETIR… DECIDIR…

QUE FAZER?

EXPLICAR… OUVIR … REFLETIR… DECIDIR…

A direita social democrata e a extrema direita instalada no seu interior e no seu apendicular CDS/PP, (agora substituído pelo IL e o Chega) e os sectores mais à direita do PS, que governam o País desde o 25 de Novembro de 1975, apostaram forte e ganharam…

Tinham demasiados trunfos a seu favor… diria mesmo a quase totalidade dos trunfos. Veja-se:

Um defensor do “Bloco Central de Interesses” na Presidência que causaria inveja a Maquiavel no que concerne a jogadas de poder.

Um PS a beneficiar da credibilidade da política que vinha sendo protagonizada pela “Geringonça” e que era assumida como sendo uma política de rutura com o passado e incomparavelmente melhor se comparada com a miserável política de triste memória de Passos Coelho/PSD e Paulo Portas/CDS.

Domínio absoluto dos grandes meios de comunicação social, totalmente nas mãos do grande capital e infestados de comentadores, analistas e direcções subservientes e obrigadas ao liberalismo e neoliberalismo, que nos encharcam a cada minuto com verdadeiras lavagens ao cérebro.

Uma população crescentemente desmotivada e descrente na política e nos políticos, intoxicada pelas sistemáticas campanhas conduzidas ao longo de dezenas de anos… no sentido de passar a ideia de que os partidos são todos iguais… todos querem é poleiro…um bando de privilegiados e corruptos… para não falar já das sondagens manipuladas, dos estudos de opinião, das mesas redondas e quadradas em regra com gente do PS, PSD e CDS… etc. etc.

Uma nova extrema direita emergente no Parlamento e passível de assegurar no futuro outras soluções de governo sem o excessivo desgaste dos partidos da alternância (PS e PSD) como o demonstravam as significativas votações nas Presidenciais em André Ventura e apontavam todos os estudos de opinião.

As tendências ao nível da Europa para a crescente influência da extrema direita populista, fascista e nazi…alimentada e financiada, como sempre, pelo grande capital, porque forma extrema de defesa dos seus interesses e consequente direitização da social democracia, incluindo a dos países nórdicos.

O enfraquecimento generalizado dos partidos comunistas na Europa e a sua crescente perda de influência política, social e eleitoral acentuada com a implosão da URSS e dos países que adoptaram o modelo soviético o que veio facilitar a intensificação da ofensiva ideológica do imperialismo na sua guerra sem tréguas contra o ideal Comunista, a obra de Marx e Engels, e a sua concepção dialética e materialista da História.

Uma derrota da CDU nas eleições autárquicas, onde sempre obtivemos os melhores resultados. Derrota fácil de apresentar como um efeito da “Geringonça” atendendo aos resultados alcançados pelo PS e por essa via criar descontentamentos no interior do Partido e ao mesmo tempo apresentar a decisão do Partido como a resposta a essa derrota e colar a esta a ideia que a Direcção do Partido punha à frente dos interesses do Povo os interesses do Partido.

Um Orçamento do Estado para 2022, apresentado à opinião pública como o melhor orçamento de sempre da “geringonça”, o que, correspondendo objetivamente à verdade, se chumbado, ainda iria dar ao PS e à direita os poucos trunfos que lhes faltavam para a vitória ser mais contundente. O trunfo da vitimização política e a responsabilização, sobretudo do PCP, junto da opinião pública com o argumento falacioso de que se não iam beneficiar no imediato do já contemplado no “melhor orçamento do Estado de sempre” isso se devia à posição de intransigência e ao radicalismo do PCP, pois o Bloco já votara contra o Orçamento para 2020.

E finalmente a velha e inevitável repetição do filme da aliança negativa do PCP com os partidos da direita e extrema direita, desta vez para chumbar o melhor orçamento de sempre e com isso provocar eleições, mensagem fácil de passar, como já sabíamos por experiência passada.

Já não falo do Covid.

Foi neste quadro, extremamente adverso, que certamente terá merecido cuidada ponderação da Direcção do Partido, em especial dos seus organismos executivos, que esta decidiu o voto contra o Orçamento do Estado para 2022 apesar de ser evidente ser essa a forte vontade de toda a direita e dos sectores mais direitistas do PS que contestavam a “Geringonça” desde a primeira hora e tinham plena consciência da ameaça que a sua continuidade representava no futuro.

E compreende-se porquê. Vêm aí os milhões da “bazooka” e um PS em minoria e comprometido na Geringonça não teria as mãos tão livres para servir clientelas como sempre teve no quadro do Bloco Central de Interesses.

Não sei quais foram os argumentos que pesaram na decisão de votar contra o Orçamento de Estado, pois, tudo o que foi dito publicamente até agora não o esclarece de forma suficiente.

SEI QUE, ao não jogar sequer, com uma tática abstenção, permitindo com essa posição que o mesmo descesse à especialidade, ganhando com isso o tempo necessário para, pelo menos, promover uma ampla auscultação em todo o Partido, refletir sobre tudo o que estava em jogo, considerar as diferentes posições possíveis, ou seja, o chumbo na votação final global se o PS mantivesse a sua intransigência, uma segunda abstenção que o viabilizaria, reservando a hipótese de uma moção de censura para o momento que se considerasse mais adequado e depois decidir, com o conforto de uma decisão colectiva, COMETEMOS UM ERRO de palmatória. Um erro cujo resultado imediato foi a pesada derrota eleitoral sofrida mas que poderá ter outros desenvolvimentos bem mais graves se não forem tomadas as medidas que a situação em minha modesta opinião exige.

E PENSO, com a experiência partidária que tenho, e que é alguma, que se não se proceder a uma rápida explicação em todo o Partido sobre as razões de fundo que levaram a Direcção do Partido à posição assumida, ouvindo com atenção, refletindo e ponderando com a participação de todo o Partido as medidas que se impõe tomar, insistindo numa agenda de trabalhos como se nada de grave se tivesse e esteja a passar, PODEREMOS ESTAR A CAMINHAR PARA COMETER UM NOVO E MAIS GRAVE ERRO… pois é à unidade e coesão do Partido que está em causa.

No imediato é importante:

Não cair no criticismo simplista aos que manifestaram o seu receio do regresso da direita aliada à extrema direita ou aos que caíram na armadilha ardilosamente montada para o voto útil no PS e que nós não fomos capazes de contrariar. Apontar-lhes o dedo como se inimigos do Partido fossem é um erro que poderá custar demasiado caro ao Partido e basta ler o que circula nas redes sociais para se perceber que isso já está a acontecer, tão frágil é a preparação ideológica de um muito elevado número de militantes e organizações.

Não cair no erro de desvalorizar a derrota clara da direita que, é bom lembrar, fez toda a sua campanha gritando cobras e lagartos contra o socialismo, afirmando a política da geringonça como a política do socialismo, acusando o PS de submissão aos partidos radicais à sua esquerda e, sobretudo, a sua submissão ao PCP.

Não cair no radicalismo e no sectarismo pernicioso que só contribui para distorcer a imagem do que realmente é o PCP e dificultar a passagem da sua mensagem.

Muito menos cair no desespero que leva até alguns camaradas(?) a responsabilizar o Partido pela eleição dos 12 deputados do Chega ou a reclamar precipitadamente a demissão da sua Direcção tendo dificuldade em admitir que o papão da direita e extrema direita não passou de terrorismo político habilmente orquestrado para garantir não a vitória, que em nenhum momento esteve em causa, mas a maioria absoluta do PS.

Nunca tive nem tenho ilusões sobre o PS, sobre a natureza da sua política social democrata e muito menos vejo que António Costa tivesse condições para tirar, na actual conjuntura, o socialismo da gaveta onde Mário Soares o enterrou. Basta ver o que se passa por essa Europa fora.

Mas também sei que não é chamando fascistas e reacionários aos socialistas ou aos sociais democratas, como fazem alguns pseudo revolucionários, que afirmamos a natureza revolucionária do PCP e atraímos para o apoio político, social e eleitoral ao PCP as forças necessárias para a implementação e defesa do seu projecto de LIBERDADE-DEMOCRACIA-SOCIALISMO.

A cultura do ódio e da violência é a cultura da extrema direita fascista e nazi, não a dos comunistas. É a cultura da contra revolução, não a cultura da Revolução. Isso viu-se em Portugal, no Chile e em tantos outros países do mundo.

A natureza revolucionária do PCP não reside em qualquer apologia da violência mas sim na natureza das suas propostas visando precisamente o fim da violência quotidiana da exploração e opressão capitalista sobre quem trabalha e produz a riqueza e vê esta, produzida por tantos, apropriada por tão poucos, em resultado das políticas liberais e neoliberais, social democratas, até hoje praticadas pelo PS e pelo PSD.

Todos sabemos, ou devemos saber, que nas sociedades pré-Socialistas, os interesses antagónicos das classes são constantes e insanáveis encerrando contradições que importa ter presentes na hora de tomar decisões. Não basta saber o que queremos. É preciso ver em cada momento quais as forças e as condições com que podemos contar para as lutas que queremos não apenas travar mas também vencer. Não se pode deixar ao adversário, muito menos ao inimigo, a escolha do dia, do terreno e das armas… sobretudo quando são poucas as forças que ainda nos acompanham.

Há muito para discutir. Esse é para mim o primeiro passo que se impõe dar no momento presente.

Insatisfeitos, como o devem estar sempre os comunistas, mau seria que pensássemos que tudo está bem e nada é preciso alterar… Hoje mais do que nunca é preciso estudar e refletir… refletir muito bem e decidir melhor… com a participação de TOD@S os que com o Ideal Comunista se identificam, porque assim o exige o património dos 100 anos que comemoramos e a luta que é preciso continuar, todos os dias, em defesa da LIBERDADE-DEMOCRACIA-SOCIALISMO.

SIM, O FUTURO TEM PARTIDO E O PARTIDO TEM FUTURO NA SUA GENEROSA E COMBATIVA JUVENTUDE.

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